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A Índia e suas montanhas

Prashar Lake

Enquanto preparava minha ida para a Índia, em 2014, comecei a pesquisar sobre as cidades, lugares, monumentos e templos que poderia colocar no roteiro. O suntuoso Taj Mahal, Jaipur e sua “Pink City”, as praias do Sul do país, algumas metrópoles, como Délhi e Mumbai. Porém, nem de longe me passou pela cabeça conhecer as montanhas da Índia. Eu, na verdade, desconhecia esse lado do país, não fazia ideia dessa outra Índia que existe para além do “comum” que estamos acostumados a ouvir por aí – entre aspas, claro, uma vez que nada na Índia é comum.

Cheguei ao país em abril de 2014 e, logo na minha primeira semana, surgiu uma viagem com os meus flatmates e alguns amigos indianos. Local escolhido: uma vila minúscula chamada Kheerganga, localizada no alto de uma montanha do Himalaia indiano. Eu estava morando em Chandigarh, cidade ao norte da Índia e a uns 400 km de Kasol, uma vila aos pés da montanha que iríamos escalar naquele final de semana. Após oito horas de viagem, subindo por estreitas e íngremes estradas, chegamos a Kasol, e ao caminho que nos levaria a Kheerganga.

Foram sete horas de caminhada. Passamos por caminhos sinuosos cobertos por neve, por pequenas cachoeiras, por casinhas onde vendiam comida quentinha feita na fogueira. Cruzamos pelo caminho com crianças sorridentes e velhinhos que carregavam aquele molho enorme de palha nas costas, sempre nos desejando “namastê”. Vimos vacas, bodes, mulas. Sol, chuva e arco-íris. Éramos um grupo de pessoas vindas de várias partes do mundo, ávidas por aproveitar cada segundo daquela aventura.

Kheerganga, o paraíso perdido


Quando chegamos a Kheerganga já era noite, fazia um frio congelante e todas as casinhas estavam cobertas de gelo. Um restaurante bem rústico nos aguardava, com vários colchões espalhados pelo chão batido, pequenos fogareiros entre as mesas, muito chai (chá típico indiano) e uma comida deliciosa! Nas mesas ao lado havia gente de toda parte, desde grupos de jovens até pessoas mais velhas, e muitos pais com filhos pequenos. Eu só pensava “gente, quanta determinação dessas pessoas, de subir isso tudo, com mochilas e crianças a tiracolo! A busca por um cantinho de paz, de fato, faz tudo valer a pena!”. E eu era mais uma, chegando ao encontro daquela paz, daquele silêncio único das montanhas, coisa que eu viria a querer ainda mais nos meses que se seguiram.

Ficamos ali, conversando, rindo, comendo, bebendo chai, conhecendo melhor uns aos outros, principalmente eu, que havia recém-chegado e mal conhecia meus flatmates. Foi ali, durante aquela noite, que estreitei os laços da amizade com pessoas que tenho certeza de que permanecerão na minha vida para sempre. Sem sinal de celular, sem a interferência do caos, numa Índia silenciosa, nós éramos nós, na nossa mais pura essência.

Chegada a hora de dormir, havia a opção de irmos para as casinhas que serviam como hotelaria e a opção que escolhemos, de dormir ali mesmo, nos colchões do restaurante. Alguns edredons cedidos pelo proprietário do local e as chamas do fogo entre as mesas foram o suficiente para nos manter aquecidos na noite gelada de Kheerganga.


No amanhecer do outro dia tomamos um café da manhã indiano e partimos para o mais inusitado momento da nossa expedição: um banho em águas termais naturais, saídas diretamente do meio das montanhas! Era quase impossível acreditar que aquelas águas quentinhas vinham do interior de uma montanha coberta por gelo! Foi delicioso e revigorante!

O retorno foi mais rápido – afinal, pra baixo todo santo ajuda – e no fim do dia estávamos no ônibus já em direção a Chandigarh. Cansados, com as roupas molhadas, um frio de matar, mas em completo êxtase pela oportunidade daqueles momentos!

Dicas:

– Kheerganga fica na região de Parvati Valley, Himachal Pradesh, e o trekking pode ser feito por conta própria, mas aconselho ter a companhia de alguém que conheça a região. Posso indicar guias, e em Kasol também é possível procurar por esse serviço.

– Épocas para fazer o trekking: entre novembro e começo de abril o clima é bem frio, e com menos pessoas nas trilhas e na pequena vila. Ideal para ver o gelo espalhado por toda parte e para quem quer fugir de grandes concentrações, porém, também é quando a trilha se torna um pouco mais perigosa, justamente devido ao gelo. Entre a metade de abril e junho já quase não se vê gelo, as trilhas são mais seguras, e a concentração de pessoas é maior. Entre julho e setembro o período de monções atinge o norte da Índia, e pode ser perigoso visitar a região, devido à intensidade das chuvas.

– Não há ônibus direto para Kasol. Tendo Délhi como ponto de partida, é possível ir de ônibus ou avião para Bhuntar e de lá pegar um ônibus ou táxi para Kasol. Em Kasol, pegue um ônibus ou táxi até Barshaini, que é onde a subida a Kheerganga se inicia.

– Leve pouca bagagem, para facilitar a subida.

– Leve roupas e acessórios de frio, como luvas, gorro e cachecol. Esses acessórios podem ser adquiridos nas várias lojas localizadas em Kasol.

– Se possível, faça uma parada em Kasol para aproveitar os cafés da cidade. A vibe é das melhores, e a comida também!

Outras regiões de montanha que valem a pena ser visitadas na Índia:

Tosh (Parvati Valley, Himachal Pradesh) – Uma vila no meio da montanha, com opções de hospedagem em guesthouses e restaurantes rústicos. Coberta de neve durante o inverno.

Mcleod Ganj e Dharamkot (Dharamshala, Himachal Pradesh) – Mcleod Ganj é onde reside o Dalai Lama. Dentre os atrativos, o templo que serve de residência ao budista e as várias vilas fofas localizadas nas montanhas ao redor da pequena cidade, como Dharamkot.

Shimla (capital do Estado de Himachal Pradesh) – destino bastante turístico da região norte, é uma cidade pequena, mas bem estruturada. É para onde os indianos fogem durante o verão, em busca do clima ameno das montanhas. Durante o inverno, o atrativo da cidade é a neve.

Bir (distrito de Kangra, Himachal Pradesh) – Vila rodeada por plantações de chá e monastérios budistas. Também recebe viajantes em busca de aventuras de paragliding.

Prashar Lake (Mandi, Himachal Pradesh) – durante o inverno, só se chega a Prashar Lake fazendo trekking, pois a neve toma conta de toda a região, deixando as estradas intransitáveis. O visual de um lago no meio de uma cadeia de montanhas é de uma beleza indescritível!


Kalpa e Reckong Peo (distrito de Kinnaur, Himachal Pradesh) – pequenas vilas localizadas no Himalaia Indiano, é preciso pegar vários ônibus para chegar até lá. Destino interessante para quem gosta de aventura na estrada, pois o caminho é tortuoso e cheio de despenhadeiros! Além do sossego, as vilas possuem vários templos budistas e hinduístas.

Munnar e Thekkady (distrito de Idukki, Estado do Kerala) – Não tão suntuosos quanto as montanhas do norte do país, as plantações de chá de Munnar e Thekkady compõem conjuntos de morros em uma paisagem que chama a atenção e que destoa do restante do Estado do Kerala. A região se transforma em um mar verde, onde variedades de ervas são cultivadas.





Texto originalmente publicado no blog O Nome Disso É Mundo, onde escrevo como colaboradora.

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