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Dicas para mulheres que viajam sozinhas

Uma pesquisa divulgada pelo jornal britânico Daily Mail tem deixado as mulheres viajantes apreensivas. De acordo com a publicação, em uma lista composta pelos 10 países mais perigosos para mulheres que viajam sozinhas, o Brasil aparece em segundo lugar, atrás apenas da Índia (os demais são Turquia, Tailândia, Egito, Colômbia, África do Sul, Marrocos, México e Quênia).

Para muitos, o fato de a Índia encabeçar a lista não é uma grande novidade, vide os vários alardes constantemente feitos pela mídia com relação à segurança da mulher e o crescente número de casos de estupro no país. No entanto, grande parte dos leitores brasileiros – e as mulheres, principalmente – se mostrou surpresa com o estudo, por trazer o Brasil como segundo colocado.

Golden Temple, Amritsar, Índia. Templo sagrado da religião Sikh

O que a pesquisa quer dizer?

Devemos tirar a Índia dos planos e esquecer dos roteiros fantásticos pelo nosso querido Brasil, por exemplo? Não, não há motivo para pânico, uma vez que o mundo nunca foi tão receptivo às mulheres como atualmente, inclusive na Índia.

Não deixe de percorrer o maior número possível de cidades brasileiras ou de realizar aquela incrível viagem à Índia se essa for a sua vontade. Porém, independentemente de resultados de pesquisas, alguns cuidados precisam ser tomados ao viajarmos sozinhas, seja qual for o país em que você estiver.

1. Dress code

Faça uma pesquisa prévia de como as mulheres costumam se vestir naquele país em que você está de olho para colocar no seu roteiro. Pode parecer absurdo, nos dias atuais, ainda discutirmos liberdade de expressão através das roupas, porém, em países do Oriente Médio, por exemplo, e na Índia, o simples fato de mostrarmos nossos ombros pode ser uma afronta à cultura local ou, infelizmente, uma “deixa” para que alguém se aproxime de você de modo indevido.

Kasol, Índia

Da minha experiência na Índia, tenho uma história nada legal para contar, e que serviu como lição. Estava em um shopping com duas amigas, no meio da praça de alimentação, decidindo em qual restaurante entrar. Na ocasião, eu usava uma blusa de alcinha e uma saia no joelho, o que não impediu um indiano de passar atrás de mim e alisar o meu bumbum! Foi uma situação triste, e devo a isso a combinação de dois fatores: ser estrangeira – e, naturalmente, chamar a atenção – e estar, provavelmente, com roupas inapropriadas. Eu achei que, por ter ido a um shopping center, estaria “segura” contra esse tipo de abordagem e, por isso, vesti a saia e a blusa de alcinha.

2. Anote e tire foto de tudo

Quando chamar um táxi, ou contratar um serviço de tour, anote todos os dados do prestador de serviço, tire fotos da placa do carro e envie para alguém de confiança. Deixe o motorista ciente de que você está fazendo isso, assim ele pensará duas vezes antes de tentar algo contra você. Preze por companhias credenciadas, ou táxis pré-pagos.

3. Atualizações nas redes sociais

Cuidado redobrado ao postar fotos em redes sociais que possuem sistemas de geolocalização, como o Instagram, por exemplo. Marcar o local exato onde você está, adicionar hashtags com os nomes das cidades, hotéis, restaurantes onde aquela foto foi tirada, tudo isso pode te trazer para o radar dos observadores. Sempre existe um “engraçadinho” que vai comentar na sua foto com um “Oi, também estou na cidade X neste fim de semana! Vamos nos encontrar?”. Eu sei, todo mundo deseja vários “likes” nas fotos e, ao deixarmos o perfil público, esse número aumenta, certo? Porém, para uma mulher que viaja sozinha, o mais seguro é manter os registros e uploads somente entre seus amigos e familiares.

4. Escolha uma hospedagem segura

Busque por hospedagens que sejam conhecidas e que tenham comentários classificando o local ou o host. Sites como o Booking.com, Trip Advisor e HostelWorld sempre trazem as classificações de hotéis e hostels ao redor do mundo. Já as plataformas CouchSurfing e AirBnb, que oferecem hospedagem em casas reais, ao invés de hotéis, também dispõem de comentários e classificações de seus hosts. Dê um tempo especial para essa busca.

Quando estava me organizando para ir a Praga pela segunda vez, no final de 2014, fiz uma pesquisa extensa no CouchSurfing, e encontrei um host que tinha mais de 50 comentários positivos! Fiz meu pedido de sofá e tive uma das melhores experiências da minha vida!

5. Acredite no seu sexto sentido

Verona, Itália

Nós, mulheres, e o nosso incrível sexto sentido! Se você se deparar com uma situação estranha e alguma coisa te disser que aquilo ali não está “cheirando bem”, não se engane! Você, mais do que ninguém, vai saber se é a hora certa de recuar e tentar resolver de outra forma. Não entre no carro, não dê papo para aquela pessoa na balada, não entre naquele local se não se sentir segura.

6. Assim como aqui, lá

Pense em como é a sua rotina no Brasil, os cuidados que você toma ao sair à noite, ou ao pegar um transporte público, por exemplo. Mesmo estando no nosso país, na nossa cidade, sempre procuramos nos precaver, certo? Em um outro país, essa atenção deve ser a mesma. Por exemplo, sempre que possível, tenha uma companhia para andar pelas ruas à noite. Viajou sozinha e não conhece ninguém? Faça amizade com os companheiros de quarto de hostel. Seja no Quênia ou em Paris, atenção redobrada, principalmente à noite, nunca é demais.

7. E, por último, mas não menos importante: não deixe de acreditar na bondade das pessoas!

Toy train, a caminho de Shmla, Índia

Existe muita gente boa no mundo e, assim como você usa o seu sexto sentido para saber quando algo não te cheira bem, não deixe de usá-lo para atrair boas energias. Para terminar, duas experiências pessoais, que vão encher o seu coração de esperança, de que vivemos em um mundo feito por pessoas e momentos que valem a pena:

No final de 2009, após uma tentativa frustrada de passar o Ano Novo no litoral da Bahia, decidi antecipar a volta para Brasília. Eu estava em um local sem muita infraestrutura de transporte e precisei pegar algumas caronas para chegar a um dos meus destinos, uma balsa que me levaria para o lado de Salvador onde se encontrava o aeroporto mais próximo. Essa aventura me rendeu uma carona de moto até a beira de uma estrada, onde o motorista me ajudou a pedir outra carona, que, na maior boa vontade, me deixou na rodoviária da cidade próxima, onde eu pegaria o ônibus para a balsa.

Em 2014, quando estava morando na Índia, fiz uma viagem com duas amigas para uma cidade ao norte do país, nas montanhas. Ao chegarmos à estação, percebemos que os vagões do trem que iria para o nosso destino estavam completamente lotados! Entramos de vagão em vagão e, quando estávamos quase desistindo da viagem, um grupo de rapazes indianos puxou conversa com a gente, dizendo que no vagão deles havia onde sentar. Ainda sem acreditar, pois já havíamos checado todos os vagões, resolvemos segui-los e, para nossa surpresa, os queridos amigos indianos nos cederam seus próprios assentos no trem! Viajamos por seis horas, eles se alternando entre em pé e pendurados na cabeceira dos bancos, e nenhum deles, em momento algum, tentou nada com a gente.


Entendendo a pesquisa


Para chegar a esse resultado, o MailOnline Travel utilizou um dado do Ministério da Saúde do Brasil e, de certa forma, generalizou os crimes de violência contra a mulher. Precisamos ter cuidado? Sim, mas calma, nem tudo é o que parece. Segundo o órgão, o número de estupros no país cresceu 157% entre 2009 e 2012. Ou seja, esse crescimento abrange todos os casos aplicados ao estupro, desde os que acontecem dentro de casa – como padrastos que molestam enteadas – até o caso citado pelo jornal, de uma turista americana que foi abusada em um transporte público no Rio de Janeiro, há dois anos. A Índia, por sua vez, aparece em primeiro lugar com base em números do Escritório Nacional de Registro de Crimes do país, que afirma que os crimes contra as mulheres aumentaram em 7,1% desde 2010.




Texto originalmente publicado no blog O Nome Disso é Mundo, em que participo como colaboradora.


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